Dói-me as horas
Caras e escassas
As horas
nas voltas de 360 graus do velho compasso
Qual metrónomo ou pé de professor de formação musical
Irrompendo de rompante "Falta-te a semíninima".
Para mim um tempo quase nada parecia
mas_ ai!_ se os pudesse ter amealhado,
aos tempos,
Colcheia a colcheia,
e metido dentro da pasta das partituras,
E os tivesse estendido, lado a lado,
a meio do estudo do Freitas Gazul,
Tê-los-ia apanhado como às malhas de um cachecol
Que eu tenho jeito para bordados e coisas de senhora
Cosia-as com linha fina e remataria com um ponto discreto
mas concreto. E bem localizado.
E estaria hoje mesmo a descosê-lo, a soltar uma malha
e a usar aquele tempo perdido num Sábado de manhã
Numa tal aula de formação musical.
Falha-me muito os pés, já...e falha-me o compasso.
O que seria 2 ou 3 por 4 é cada vez mais reduzido a um,
e culpa disso têm estes tempos que se me escapam ao ritmo;
mania de infância que não soube corrigir e que se agrava.
É que na música a gente erra, estuda, recomeça e corrige,
mas a vida (por mais que estudes) só deixa errar uma vez.
Apesar da dor de horas
e do compasso desritmado
Vivo em clave de Sol
e amo todas as bolinhas que se me penduram nas cinco linhas,
tentando não perder sequer uma colcheia.