terça-feira, 6 de novembro de 2012

Quando cai o F ao fútil

Fútil é um adjetivo muito feio. É daquelas palavras que por poder significar tanta coisa acaba por não significar coisa nenhuma. Vai tendo significados diferentes dependendo da pessoa e da cultura em questão. A Paris Hilton (está na hora de encher o blog de grandes celebridades) deve dormir de cueca Chanel e ainda dar um sopapo num gato (como quem diz que come Rice Crispies ao pequeno-almoço debaixo de um lustre de cristais), enquanto do outro lado do mundo se briga por um par de havaianas. E assim chamar fútil a alguém é de quem se acha de uma modéstia exemplar. Já tinha muito inconscientemente chegado a esta conclusão, e além de não querer dar um ar de falsa modéstia, foi este o motivo pelo qual ostracizei esta palavra.
_”Mas o que é para ti ser fútil?”.
Entre um gole e um amendoim: é ser superficial. Estar com pessoas por interesse, dar-se com toda a gente e não gostar verdadeiramente de ninguém, relações levianas e físicas e coisas-por-aí-percebes?
_”Ah precisava tanto de ouvir isso!”.
Ora essa. E nesse momento parece que tivemos uma (das já habituais) co-sinapses, ou não estivéssemos nós no topo do hotel mais cagão das redondezas, com uma vista sublime sobre Lisboa e dois copos de vinho à frente. Até me deste boleia, eu até usei o iCoisas para procurar a morada do bar (que não encontrámos), e transitámos no teu confortável coche da zona mais queque de Lisboa para a terceira ou quarta com mais tias por metro quadrado e…epá se calhar somos fúteis. Que diriam os etíopes de nós? Também é verdade que este deve ter sido o nosso encontro mais fútil de todos. Mas quem é que não gosta de ser fútil de quando em quando, dentro das possibilidades e, já agora, com boa companhia?
É um facto que a futilidade a que nos permitimos é bem merecida. A desgraça é tal que quando analisei a vista da cidade tive o impulso de sublinhar as casas com o marcador cor-de-rosa, o dos títulos. O interesse disto é que também fazemos boa parelha a comer frango assado com as mãos (fazemos?!)…e saímos daqui com mais vontade de sublinhar coisas desenfreadamente por mais duas semanas. Não estou contigo por mais interesse nenhum a não ser na tua pessoa (mas gostei da boleia vá, mesmo tendo quase-batido duas ou três vezes!).
E é isso: não te acho fútil. Da mesma forma que não temo se me julgarem como tal. E com toda a (f)utilidade, aguardo o próximo Quinta de la Rosa com vista sobre Lisboa, à boa maneira cagona de quem não saía de casa há mês e meio.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

As primeiras rugas


Começam-me a aparecer rugas. Nada que não devesse acontecer. Os 25 anos anunciam o decair progressivo da juventude e a exigência dos últimos meses veio com este brinde! Não é que me preocupe, sou até um pouco freak no que toca a envelhecer_ eu gosto. Gosto de rugas e cabelos brancos nas pessoas. Gosto de lhes ler as histórias por detrás desses sinais_ mãos grandes e pele seca de um trabalho físico, rugas preocupadas ou desconfiadas na testa numa expressão de dúvida permanente, sorrisos lavrados na pele por covinhas e os pés de galinha de quem não se escondeu da luz.

Ocorreu-me hoje que não lhes quero fazer frente. Não me quero ralar com isso e não vou ultrapassar a barreira dos cremes, já que eu própria me auto-oxido permanentemente com pouco sono, muito café, stress que abala o sistema adrenérgico mais robusto. E a par dos nervos de aço, quero ter rugas igualmente vincadas.

Sendo assim, e como já em tempos me propuseram, vou investir nelas e lavrar rugas fortes e felizes. Desafio-vos a fazer o mesmo.
Isto de envelhecer é bom...amadurecem-se as escolhas, definem-se mais as convicções, selecciona-se mais o tempo e a companhia para lazer, refinam-se os gostos e assume-se o que não se gosta. Os sins são mais seguros, os nãos são mais convictos. Valoriza-se o descanso, revigoriza-se com o trabalho. Tem-se mais prazer em dar, desprivilegia-se o receber. Crescer é bom, ainda que traga umas quantas rugas de preocupação, angústia, dor, frustração. São todas minhas_essas e as boas! Quem mas ler na cara tem um bonito romance com que se entreter. Vou trabalhar nisso!




(E já agora, contribuir para as "vossas" rugas felizes).

terça-feira, 4 de setembro de 2012

sábado, 25 de agosto de 2012

O "orgulho gordo" e outras coisas que tais


Deu-me para ler blogs “de gaja” nos últimos meses. Aproveitei a conjuntura desta fase da vida e, dado que os neurónios não aguentam coisas muito eruditas, é disto que papo nos intervalos de estudo. Um tema recorrente é a dicotomia beleza:inteligência nas mulheres. Ora leiam aqui o melhor exemplar que colhi deste tema: http://www.oblogdodesassossego.blogspot.pt/2012/07/nao-me-venham-com-merdas-que-moda-pode.html .
Antes de mais, convém salientar que não me considero uma Cláudia Vieira, muito menos uma rapariga dotada de uma inteligência e cultura que transcendem a órbita terrestre. Na verdade, não almejo uma coisa nem outra: a Cláudia tem joelhos de velha (não parece mas tem, que eu vi) e ter uma grande cabeça é uma ameaça a ser feliz. A minha já me chega.
Percebo o “orgulho gordo” e já cheguei a cultiva-lo também, na minha adolescência. Era uma miúda grandalhona, que os coleguinhas de turma arrumavam na baliza porque se abrisse os braços e as pernas não entravam bolas (não fosse eu nunca ter dado um chavo no desporto) e a brincadeira das meninas partilharem roupa não dava para mim: não era qualquer marca que vendia o 44. Ah, e vestia t-shirts a dizer “Salvem a baleia” nas aulas de educação física porque era uma miúda espirituosa e gozava com a situação (e os rapazes naquela idade achavam um prato e faziam o maior escarcel. O mordam-me no cú porque é onde tenho mais carne é um lema de vida!). Havia até o “levantamento da Cató” e eu não me esqueço que só 3 pessoas conseguiam comigo ao colo, uma delas nossa professora de matemática (um beijo para si, que sei que lê! A propósito, nunca mais a vi no ginásio!). Apesar dos quilos a mais, eu sentia-me bonita. Muito trambolha e desajeitada com uma pauta brilhante estragada por um 3 a educação física, mas bonita. E complexos com o corpo foi coisa que nunca me assistiu.
Isto só para perceberem: eu já não me sinto trambolho mas sou a mesma pessoa. Faço desporto mais do que 5 vezes por semana, sinto-me ágil e saudável, caibo nas calças, era capaz de apanhar mais bolas na baliza agora, era miúda para ganhar o teste do Cooper a correr e tenho mais força, por dentro e por fora. Ah, não me acho uma Cláudia Viera mas acho-me bonita.
Se sou manipulada por uma corrente de materialismo porque as modelos magrinhas e giras é que fazem as publicidades e tal: eu não vejo televisão e eu não gosto de magrezas. Estou-me pouco borrifando para estereótipos.
Se sou influenciada pela opinião masculina, gosto de dar nas vistas por atributos físicos, visto saias/vestidos/saltos altos/e que mais coisas do demo: não trocaria o meu cérebro pelo melhor par de mamas do mundo; gosto de compras mas não sou shopaholic (excepção feita ao Celeiro e Supermercado do El Corte Inglés); e por último: o que é bom é para se ver com conta, peso e medida.
Se é excessivo dedicar-me ao corpo 7 dias por semana porque é uma moda ou é fútil: comer bem e pôr o corpo a mexer não é fútil. Ele foi feito mesmo para isso. Senão não havia a epidemia de obesidade e diabetes que há para aí. Eu nunca vou habituar o meu corpo ao sedentarismo nem que não durma! Nem que tenha de saltar à corda na sala da enfermagem. Fica a promessa.
Sobre o ir ao super-mercado de saltos e cabelo arranjado e unhas de gel: eu vou onde quiser como eu quiser, de jardineiras e all-star ou vestido e saltos altos. E se não cuidar da minha aparência é porque algo de muito grave se passa comigo. E quanto aos trezentos e tal acessórios e maquilhagem: cada um usa o que lhe faz sentir bem. Mas que porra.
Relativamente ao facto de cada frase feminista destas vir com “os homens” atrás: as meninas que se acham inteligentes e normais, que não entram nessa de ginásios e de maquilhagem e não seguem as tendências da moda, respondam: tudo o que vocês fazem é para agradar aos homens? É que eu faço estas coisas acima de tudo por mim. Será que sou anormal?

E terminando, gostaria de dizer à autora que sei onde andam as mulheres inteligentes que estudam, pensam e lêem e discutem. Se quiser, eu apresento-lhas. E sabe, elas são lindas de morrer! São giras, cuidam-se, comem bem, fazem desporto, vestem-se bem, estudam como máquinas, são determinadas sem perderem a feminilidade (já que diz que as mulheres têm de ser masculinizadas à força para serem respeitadas e ouvidas), lidam com homens, integram e lideram equipas, seguram bisturis, têm sangue frio e mais: lêem romances, percebem de política e maquilhagem, de cozinha e de moda. Minha querida, tenho todo um mundo para lhe apresentar.
Concordo plenamente que a beleza é uma questão de atitude. É acima de tudo atitude. Assim como me passa completamente ao lado o estereótipo de gaja boa sem nada na cabeça, começo a odiar aquelas que se intitulam normais e acham que boa e burra têm de andar colados.

domingo, 12 de agosto de 2012

Antes fosse bicho carpinteiro

"E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa: uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância — irmãos siameses que não estão pegados."

Livro do Desassossego por Bernardo Soares

sábado, 30 de junho de 2012

Mãe, pai, acabei o curso!

Engraçosa, esta situação. Vou-me esforçar nisto da escrita, que as únicas coisas que tenho lido (e escrito) é texto corrido técnico do mais impessoal e gelado que se possa imaginar. Planeia-se uma grande rentrée na blogosfera para Janeiro. Não percam!

Confesso que este curso mecanizou-me e tirou-me coisas muito giras, como por exemplo ter prazer em escrever (e divergir um bocadinho). Enerva até pensar que não fui forte o suficiente para impedir que isso acontecesse, eu que me recusava a encarnar  estereótipo de estudante de medicina. Achava-os excessivamente passados a ferro, penteados, limpinhos, correctos. Simplesmente não me via nesses propósitos. Até ao dia em que  me começou a incomodar usar calças de ganga no hospital. Depois um ou outro reparo a propósito de unhas coloridas, uma ou outra boca sobre outras coisas que tais (dizia umas asneiras mas não posso!) e foi aí que decidi: "ok, não há mais calções, não há mais chinelos, não há unhas às cores nem calças de ganga. Catarina, deixa de ser teenager e faz-te mulher". Podia ter ficado por aí...mas deixei de pintar. Era comprar tintas e pincéis e telas e pensar no que fazer com elas e levar o cavalete para Lisboa...e não havia pachorra. E ia pintar quando? Nos intervalos do estudo de Anatomia? O quê? Um fémur? Ou ia inspirar-me na paisagem e pintar um pombo? (muita raiva nesta frase, se não me fiz entender bem). Desisti. E deixei de desenhar (nas aulas teóricas...é o melhor momento para desenhar). Na verdade deixei de ir às teóricas_ o meu défice de atenção não me permitia! E perdi todo um ritual de converseta em teóricas que faz bem ao espírito. Grande parte das boas companhias também não ia...e naquelas de presença obrigatória passei a fazer listas de compras (bom também, apesar de tudo!). Deixei de cantar. Pois, para quem não sabe eu tinha uns ataques de canto. Ataques porque era uma vontade aguda, cantava e passava (o que tinha de passar). A voz atrofiou por desuso...e hoje em dia já nem o Fado do Estudante me sai como deve ser. 

Mas o engraçado é que olho à volta e não  sou a única a estar diferente! Houve gadelhas que se cortaram, tererés que deixaram de existir, piercings e brincos que desapareceram, madeixas cor-de-rosa e laranja que não voltaram a ser feitas (cof) e até as loiras e as ruivas artificiais regressaram ao tom natural! As pessoas usam camisa branca, malas de pele, carteiras clássicas. Deixou-se de se beber até cair para o lado, de se sair como se o mundo fosse acabar amanhã. Pensando bem, foi um quarto de vida. Toda a gente muda ao sabor das circunstâncias.

E nestes dias ando particularmente melancólica. Nada de mariquices, que para a frente é que é caminho e o que aí vem tem de ser no mínimo três vezes melhor do que o que passou. Um grande obrigado a quem me acompanhou nesta Odisseia. E para aqueles com quem partilhei estes caminhos, um grupo altamente seleccionado ao longo de 6 anos: Este blog é pequeno demais para nós...e não me vou alongar com aquelas lamechices de fim de curso! Resumindo: isto não acaba aqui. Agora é que vai começar o rock'n'roll!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Nunca digam às vossas filhas que já são umas mulherzinhas


Nunca digam às vossas filhas que já são umas mulherzinhas. Nem lhes omitam que deixam vincos nas camisas ou que o arroz estava salgado. Já agora, não lhes dêem enxoval antes delas perceberam que vão precisar dele. E por aí vai: a cama está mais vezes mal feita do que bem feita, as gavetas estão quase sempre desarrumadas, os cabelos caem no chão da casa-de-banho e não se apanham. Essas coisas é que as fazem…
 
…mulherzinhas. Não lhes digam uma coisa dessas! 

_Está bonito o desenho, não está mãe? Está. Mãe, achas que pintei bem? Está muito bem pintado. Olha a composição que fiz na escola! E a composição corre os familiares todos, é passada a limpo, fotocopiada. Uns anos mais tarde escreve no jornal e “está muito bem escrito”. 

Mas não. Os desenhos eram desenhos normais, mal delineados, pintados à pedrada, sentada numa cadeira com uma perna debaixo do rabo a dar a dar e a manga a limpar o nariz, as mãos todas sujas de caneta de feltro. As composições eram normais, baseadas nos contos da Disney, muito de donzelas e príncipes, mas era o que se dava às miúdas nessa altura! E os textos do jornal…por acaso nunca tinham erros ortográficos. Isso não faz deles espectaculares. Não é assim que elas se fazem…

mulherzinhas. As mulherzinhas! Uma criança chega aos 10 anos e leva com isto de repente. Atrás estavam as bonecas e as cócegas na cama…à frente dizem-lhe que “agora já és uma mulherzinha”. Eu? Mas ainda há 4 anos bebia leite do biberão! E os meus Nenucos? E a Cinderela que passa na tvi? E a plasticina, as latas de leite condensado que se rapam com o dedo? Dormir com a mãe até o pai chegar? As mulherzinhas não fazem isso! Eu não quero ser isso!

As mulherzinhas nascem no erro. As batatas estavam cruas e ninguém disse! As toalhas de casa-de-banho estavam moles de tão mal engomadas. Os textos não eram nada de especial e as telas até eram um bocado fatelas. Ah, aquela muito bonita foi quase toda pintada pela professora, não conta! O problema é que essas meninas acreditam mesmo que são isso que lhes chamam e na verdade até podem fazer o melhor peixe assado do mundo, mas nunca aprenderam a pintar por dentro do risco. 

E precisamente quando elas começam a precisar de enxoval (aquele que já recebem desde os 10 anos e nunca perceberam muito bem para que é que servia) faz falta serem meninas e terem desculpa para errar, serem ensinadas e ajudadas a fazer melhor. 

Nessa altura, pela evolução das coisas, são quase senhoras. E uma senhora sente-se muito mal quando não consegue fazer aquilo que lhe compete. Porque não sabe, porque nunca fez sozinha, porque não tem tempo, porque é muita coisa ao mesmo tempo, porque sim! E pedir ajuda é algo...engraçoso. Por isso apelo: Nunca digam às vossas filhas que já são umas mulherzinhas.