quarta-feira, 8 de julho de 2009

Freitas Gazul

Dói-me as horas

Caras e escassas

As horas

nas voltas de 360 graus do velho compasso

Qual metrónomo ou pé de professor de formação musical

Irrompendo de rompante "Falta-te a semíninima".

Para mim um tempo quase nada parecia

mas_ ai!_ se os pudesse ter amealhado,

aos tempos,

Colcheia a colcheia,

e metido dentro da pasta das partituras,

E os tivesse estendido, lado a lado,

a meio do estudo do Freitas Gazul,

Tê-los-ia apanhado como às malhas de um cachecol

Que eu tenho jeito para bordados e coisas de senhora

Cosia-as com linha fina e remataria com um ponto discreto

mas concreto. E bem localizado.

E estaria hoje mesmo a descosê-lo, a soltar uma malha

e a usar aquele tempo perdido num Sábado de manhã

Numa tal aula de formação musical.



Falha-me muito os pés, já...e falha-me o compasso.

O que seria 2 ou 3 por 4 é cada vez mais reduzido a um,

e culpa disso têm estes tempos que se me escapam ao ritmo;

mania de infância que não soube corrigir e que se agrava.

É que na música a gente erra, estuda, recomeça e corrige,

mas a vida (por mais que estudes) só deixa errar uma vez.



Apesar da dor de horas

e do compasso desritmado

Vivo em clave de Sol

e amo todas as bolinhas que se me penduram nas cinco linhas,

tentando não perder sequer uma colcheia.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Presunto Ibérico


Ora não fosse este um blog "de gaja" e relembrando um desabafo de uma amiga_ "minha querida, tens duas opções: ou és boa ou vais para medicina"!



Ó Biquini do ano passado,
Qual o teu pesponto não é motivo de afronto!
E para que o rabo passasse
Quantas se apratalharam de alface
Quantas se fartaram de suar
E sobremesas tiveram de recusar
Para que te pudessem usar!

E a balança?
Gosta muito de ti desde que não enchas a pança!
Que ideia que não perdura é que a gordura é belezura.
Deus de uma costela fez uma elite
Mas nas mulheres é que pôs a celulite.

Está um bocadinho exagerado! Eu não penso nada assim.

Por isso é que fico sentada numa cadeira nos dois meses que antecedem Agosto, a acumular gordurinha, gordurinha, gordurinha! Manter a qualidade do bom presunto ibérico! Gosto muito de exames no Verão!


Piu!

quinta-feira, 19 de março de 2009

Confissões de uma short sleeper


Dizia um amigo que não faria sentido viver sem uma necessária pausa a cada 24 horas, mesmo que fossemos as máquinas mais implacáveis e trabalhantes do Universo. Respondi-lhe que queria espremer o sumo da fruta fresca que me é tão legítima e que herdei por milagre de crossing over, X para cada lado nas santas-madres-gónadas apaixonadas, e que se isso implica mais ruga ou menos ruga, com essas posso eu bem.



Tenho dito que é na crista da onda que se conhece melhor a gravidade. Entendemos-lhe as manhas, contornamo-la com perícia. As nossas contas já não falham e se falharem, a prancha que se aguente, que com ondas podemos nós bem. E assim são anos sucessivos de tributo à energia, guardando-a debaixo de cada unha, nos olhos e na boca, exuberando-a para o mundo, utilizando-a bem.



Os raios de sol colam-se-nos no rosto, o sal reflecte luz na nossa pele. Mas há todo um cansaço e entendimento no nosso marear. Uma profunda lucidez que não é lamuria nem queixinha, é um peso-não-fardo, uma sentença de carregar as causas e os propósitos, as coisas verdadeiras, o conhecimento do limite, a desmotivação por existir, de facto, um limite. Modelos de baixa energia morrem tarde e virgens, o que também não deve ser mau. Só não me enche o metro e oitenta.





Parabéns, Filipa, pelos teus 21 (cinquenta) anos. Havemos de festejar o nosso primeiro pé-de-galinha!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

"Eu só escrevo quando tenho insónias"

Corrijo: eu tenho insónias porque não escrevo.

(Agradeço a quem me fez chegar a esta bela conclusão.)



Vale a pena pensar nisto.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sinapse imunológica


Ó minha bela e digna FCML, hoje que és uma alucinação hipnagógica cheia de células em sinapse imunológica, este texto é só para ti.


Eu que te amo desde o mais gingão segurança até à cozinheira mais labrega e matrona, passando pelas queridas da secretaria sempre com sua capacidade comunicacional extra-humana e pelas secretárias dos departamentos que nos recebem com a expressão de "coitadinho", até às senhoras da reprografia que passam de uma mera expressão facial para dizerem mesmo "coitadinho" e às brasucas do bar que nos presenteiam com scones quentes à tarde. Eu que piso cada quadrado preto do teu chão, orgulhosa da praxe com que me acolheste. Esse chão que já recebeu a minha gosma de verme nojento e onde já arrastei algumas partes duarante a semana de recepção aos teus projectos a deuses.

Eu que um dia te mirei do outro lado da estrada e fixei na memória os segundos eternos que me concedeste. As all star novas (que embora esfarrapadas ainda uso, combinando a cor da meia com a da camisola), a mala da marca B que me ofereceram orgulhosos (que todos os dias me acompanha, pois "a próxima pagas tu"), as madeixas da moda e o rabo quatro quilos recém-engordados, depois do gasto de ATP que foi o período prévio a seres considerada meu património. Foste suada, minha pobre e mal agradecida.

Hoje passeio pelos teus salões povoados de gente sábia, normalmente com um ou dois calhamaços debaixo do braço (já faltou menos para ser halterofilista), observando e contemplando ilhas de estudantes agarrados a dossiers que se dispersam pelo mar da tua sabedoria. (Não sei bem como é, mas nas outras acho que jogam às cartas!). E poderia este ser um cenário um tanto ou quanto decrépito, não fosse a aura dourada e o perfume exalado por seres que estacionam seus modestos automóveis à tua porta, e caminham seguros de si em direcção a um qualquer anfiteatro, expondo as matérias divinas para a aprendizagem dessa arte que nos vais desvendando de forma tão forreta, quase que nos arrancando pele e unhas.

Sentar-me-ia sozinha no topo do Sousa Martins, no Campo dos Mártires que ensinas, só para te ver. Tu serena, branca, limpa, imponente, recebendo cada aprendiz dos teus segredos e cada pregador que vocifera as tuas ladainhas. Mas neste momento e dadas as circunstâncias, viraria toda a minha superfície corporal dorsal para ti, minha mestre, e mais me apetece é ver-te por elas_ compridas, estreitas e belas_ as costas.


Picas e móis e fazes almôndegas de mim, mas o meu esparguete é duro de roer!


E se não pagares uma mala B nova, paga ao menos a despesa em base e anti-olheiras.



Aceitam-se sócios para a compra do bar. Eu nasci para ser cozinheira, qual médica qual quê!

domingo, 25 de janeiro de 2009

"Palas nos olhos usam os burros"



Vim fazer-me ouvir, que esta miúda anda apaixonada e vê o mundo imerso numa nuvem cor-de-rosa. E pela última vez que cá passei não me pareceu que isto estivesse assim tão mau.

A verdadeira crise! De valores, a pior de todas.


Não entendo a mania de criar máquinas. A última coisa que quero para mim é ser unipolarizada, veementemente afincada a uma causa, tão fanática que não vejo (nem sei) o que está para além do curto alcance dos meus óculos de estudo. E isto nem é miopia, astigmatismo ou outras, como quem diz que não é inerente à condição humana. É curto alcance, meu caro Watson, horizontes curtos, preguiça?, egoísmo? Egoísmo.


Vejo soldados armados até aos dentes com todos os argumentos e conhecimentos do milímetro cúbico que é a vida profissional deles. E lutam arrogantes, soberbos, cruéis, seguros de que são os senhores daquele milímetro cúbico e que aquele volume perfaz toda a inteligência e sapiência do mundo.


Erradicar o mal só mesmo apostando na raiz_ os pequenos. É que se eu tivesse filhos, antes de lhe ensinar as letras já teriam feito muitos gatafunhos nos livros de culinária da mãe (pensando que é hereditário!) e antes de dizerem a tabuada teria de lhes ter ensinado a nadar e a andar de bicicleta. Antes de me recitarem Camões teriam de discutir com os amigos e fazer as pazes e antes de se fecharem no quarto e tirarem a merda do 18 que estraga tantas cabecinhas já teriam mostrado que com gente e ao improviso se safam tão bem como com um mês de estudo de 10 horas por dia para os exames da vida deles. E aí sim, façam-se Homens e Mulheres. Mas antes disso e antes dos 6 anos de rampa de lançamento provavelmente para se dedicarem ao milímetro cúbico deles, a minha mulherzinha já saberia fazer jardineira e lavar casas-de-banho, como a mim me ensinaram a ser mulherzinha; e os meus pequenos já saberiam respeitar as diferenças e aprender com os erros e com os outros e a humildarem-se, como a mim me ensinaram a ser pessoazinha. E de certeza que mesmo que se se fechassem nos seus milímetros cúbicos não seriam assim tão limitados. Porque palas nos olhos usam os burros, que também foi coisa que ouvi na infância.



Não acredito que pequenos génios à porta fechada algum dia possam curar as feridas do mundo.