Deu-me para ler blogs “de
gaja” nos últimos meses. Aproveitei a conjuntura desta fase da vida e, dado que
os neurónios não aguentam coisas muito eruditas, é disto que papo nos
intervalos de estudo. Um tema recorrente é a dicotomia beleza:inteligência nas
mulheres. Ora leiam aqui o melhor exemplar que colhi deste tema: http://www.oblogdodesassossego.blogspot.pt/2012/07/nao-me-venham-com-merdas-que-moda-pode.html
.
Antes de mais, convém
salientar que não me considero uma Cláudia Vieira, muito menos uma rapariga
dotada de uma inteligência e cultura que transcendem a órbita terrestre. Na
verdade, não almejo uma coisa nem outra: a Cláudia tem joelhos de velha (não
parece mas tem, que eu vi) e ter uma grande cabeça é uma ameaça a ser feliz. A
minha já me chega.
Percebo o “orgulho gordo”
e já cheguei a cultiva-lo também, na minha adolescência. Era uma miúda
grandalhona, que os coleguinhas de turma arrumavam na baliza porque se abrisse
os braços e as pernas não entravam bolas (não fosse eu nunca ter dado um chavo
no desporto) e a brincadeira das meninas partilharem roupa não dava para mim:
não era qualquer marca que vendia o 44. Ah, e vestia t-shirts a dizer “Salvem a
baleia” nas aulas de educação física porque era uma miúda espirituosa e gozava
com a situação (e os rapazes naquela idade achavam um prato e faziam o maior
escarcel. O mordam-me no cú porque é onde tenho mais carne é um lema de vida!).
Havia até o “levantamento da Cató” e eu não me esqueço que só 3 pessoas
conseguiam comigo ao colo, uma delas nossa professora de matemática (um beijo
para si, que sei que lê! A propósito, nunca mais a vi no ginásio!). Apesar dos
quilos a mais, eu sentia-me bonita. Muito trambolha e desajeitada com uma pauta
brilhante estragada por um 3 a educação física, mas bonita. E complexos com o
corpo foi coisa que nunca me assistiu.
Isto só para perceberem:
eu já não me sinto trambolho mas sou a mesma pessoa. Faço desporto mais do que
5 vezes por semana, sinto-me ágil e saudável, caibo nas calças, era capaz de
apanhar mais bolas na baliza agora, era miúda para ganhar o teste do Cooper a
correr e tenho mais força, por dentro e por fora. Ah, não me acho uma Cláudia
Viera mas acho-me bonita.
Se sou manipulada por uma
corrente de materialismo porque as modelos magrinhas e giras é que fazem as
publicidades e tal: eu não vejo televisão e eu não gosto de magrezas. Estou-me
pouco borrifando para estereótipos.
Se sou influenciada pela
opinião masculina, gosto de dar nas vistas por atributos físicos, visto
saias/vestidos/saltos altos/e que mais coisas do demo: não trocaria o meu
cérebro pelo melhor par de mamas do mundo; gosto de compras mas não sou
shopaholic (excepção feita ao Celeiro e Supermercado do El Corte Inglés); e por
último: o que é bom é para se ver com conta, peso e medida.
Se é excessivo dedicar-me
ao corpo 7 dias por semana porque é uma moda ou é fútil: comer bem e pôr o
corpo a mexer não é fútil. Ele foi feito mesmo para isso. Senão não havia a
epidemia de obesidade e diabetes que há para aí. Eu nunca vou habituar o meu
corpo ao sedentarismo nem que não durma! Nem que tenha de saltar à corda na
sala da enfermagem. Fica a promessa.
Sobre o ir ao
super-mercado de saltos e cabelo arranjado e unhas de gel: eu vou onde quiser
como eu quiser, de jardineiras e all-star ou vestido e saltos altos. E se não
cuidar da minha aparência é porque algo de muito grave se passa comigo. E
quanto aos trezentos e tal acessórios e maquilhagem: cada um usa o que lhe faz
sentir bem. Mas que porra.
Relativamente ao facto de
cada frase feminista destas vir com “os homens” atrás: as meninas que se acham
inteligentes e normais, que não entram nessa de ginásios e de maquilhagem e não
seguem as tendências da moda, respondam: tudo o que vocês fazem é para agradar
aos homens? É que eu faço estas coisas acima de tudo por mim. Será que sou anormal?
E terminando, gostaria de
dizer à autora que sei onde andam as mulheres inteligentes que estudam, pensam
e lêem e discutem. Se quiser, eu apresento-lhas. E sabe, elas são lindas de
morrer! São giras, cuidam-se, comem bem, fazem desporto, vestem-se bem, estudam
como máquinas, são determinadas sem perderem a feminilidade (já que diz que as
mulheres têm de ser masculinizadas à força para serem respeitadas e ouvidas),
lidam com homens, integram e lideram equipas, seguram bisturis, têm sangue frio
e mais: lêem romances, percebem de política e maquilhagem, de cozinha e de
moda. Minha querida, tenho todo um mundo para lhe apresentar.
Concordo plenamente que a
beleza é uma questão de atitude. É acima de tudo atitude. Assim como me passa
completamente ao lado o estereótipo de gaja boa sem nada na cabeça, começo a
odiar aquelas que se intitulam normais e acham que boa e burra têm de andar
colados.