sábado, 3 de abril de 2010

Resiliência

Gosto desta palavra. Desde pequena. Primeiro que tudo porque dá umas voltas giras com a língua _ re-si-li-ência_ e não tem érres pelo meio, o que me facilita bastante a dicção e eu gosto de dizer as minhas palavras preferidas bem ditas. Depois porque é daquelas palavras que, quando se dizem, vêm sempre acompanhadas de outras mais ou menos parecidas, candidatas a ser como ela, mas que nem pronunciadas mil vezes sílaba a sílaba hão-de ter o mesmo significado: resistência, força, por aí, e ela destaca-se. Gosto desta palavra e hoje lembrei-me dela, não sei porquê. Ando meia alucinada e devo ter ido busca-la a um texto qualquer que diz "paciência, resiliência e cansaço".

Ora, resiliência. É que eu às vezes digo as coisas com a perfeita noção que não entendi bem o que querem dizer. Resiliência era qualquer coisa que os metais tinham, se bem me lembro. Que dobram e esticam e encolhem e fazem trinta por uma linha deles e eles voltam ao estado normal. Resiliência, se bem me lembro dos tempos em que desenhava nos livros de filosofia, era qualquer coisa de luta interior com supostos pilares internos contra qualquer coisa má sem causar surto psicológico. E numa pesquisa rápida na net: armazenamento de energia numa situação de stress sem ocorrer ruptura, suportar traumatismos e recuperar apesar das lesões através de um jogo complexo de processos defensivos e factores de protecção internos e externos. Bonito.

Resiliência, resiliência, resiliência. Deixo as teorias da deformação e energias para quem se dedica a elas. Passo a pasta dos factores de protecção internos e externos e complexos intra-psíquicos manhosos para quem de direito. O que eu sei e tenho como experiência é que essa coisa de resiliência é uma bela treta! Nem energias, nem pilares internos, nem propriedades do arco da velha lhe valem e pessoa resiliente, mas resiliente à brava, é aquela que se deixa moldar (que remédio!) em plena tempestade (ou surto ou ruptura) e se torna, ela própria, a forma do(s) coice(s) que levou, e a mostra descaradamente sem vergonhas, mais amargura, menos amargura, mais ou menos cansaço, mais ou menos paciente, e tira partido disso.

Devo andar com cara de coice mas temos pena. Gosto muito de vocês na mesma, e agora de uma maneira diferente, diria com muito mais amor.

6 comentários:

Sara Nascimento disse...

Também sei, por experiência, o que é ser resiliente. Concordo que a pessoa resiliente se molda perante as dificuldades que passou, mas acredito que nem toda a gente é capaz de fazer isso. Para nos moldarmos, para seguirmos em frente depois de uma adversidade (diferentes, mas mesmo assim seguindo em frente), temos que ter uma força interna e uma energia que, infelizmente, nem toda a gente encontra nos momentos difíceis.

Ser resiliente é, depois de um "coice", compreender rapidamente que a vida nunca mais será como era, mas que isso não significa que seja má... Significa que temos que encontrar uma nova maneira de viver.

Beijinhos

Catarina disse...

Heyyyy Sara, andas perdida por estes lados!! Gosto te de ver por aqui! :)

Ser resiliente não é coisa fácil... Mas acho que estou no caminho.

Obrigado!!

Beijoca e bons estudos! :X

Sara Nascimento disse...

Já há algum tempo que sigo os teus blogs em silêncio=P

Não é fácil, mas a ideia que tenho de ti é que és capaz de o ser na perfeição;)

beijinhos e bom estudo*

silvia rosa disse...

Tou a ver que nao sou a unica a ser fa dos "sapatos", e nao me surpreendo nada que a sara tambem seja... de resto era quase espectavel :) E engracado porque temos tipos de personalidade muito proximos... e vamos-nos encontrando por ai.
Pois a tal resiliencia... penso na palavra tantas vezes. Para mim e ter um core interior tao estavel que quando e abalado consegue sempre reconstruir-se, nao necessariamente da mesma forma, mas reconstroi-se. E depois ha uma grande dose de teimosia e preserveranca que tambem dao jeito.
Devo confessa que sorri com a ideia do assumir o coice com a amargura natural. Esse e mesmo o mecanismo de defesa intrinseco, embora goste de pensar que nao o mais desejavel. Ha outro passo a seguir que e o de resolver o que nos fica da amargura ate estar tudo bem. Quem consegue isso fica em paz. Quem nao consegue fica em conflito. Podemos dizer que a amargura e quase uma medida linear dos coices que se vao levando. Mas essa tem remedio... ola se tem...
beijos

Catarina disse...

Estou toda babada! Com duas "fãs" novas!!

Pois é, Sílvia, gosto da tua teoria sobre a amargura, embora também não goste muito que tenha de ser assim. Mas remédio para ela conheço um_ a doçura! Com a sua latência e demora, claro. Mas vai curando!

Beijola às duas!

silvia rosa disse...

:)